domingo, 8 de novembro de 2009

Vitória!

Existe muita música na palavra 'cura'...
Foi nesse ritmo que acordei dançando hoje!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Com cuidado

Dinda Mima é minha dinda só porque quero e escolho.

Ela é muita coisa dentro da minha lista de sobrevivência diária e está sempre ao alcance, disponível, entregue, possível e vigilante.

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Dei uma pirada quando a enfermeira do Posto de Saúde, ligou lá pra casa desmarcando a consulta que avaliaria meu último Raio X e me daria baixa na ficha de TB.

Vou ficar três semanas sem tomar os remédios, sem saber se está tudo reconstruído, de fato, dentro do orgão que uso pra respirar...

(E se o bacilo ressurgir das cinzas? Se os buracos descicatrizarem? Se minha vida tiver que parar mais uma vez? Se eu nunca mais parar de sentir essa dor? E se voltar a tossir e perder o ar?)

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A gente trocou duas palavras e saí do surto neurótico e desesperado.

É que o amor dela me tira dessa condicional delirante e me deixa raciocinar com inteligência.

Ter ela por perto é um calmante bom que me ajuda viver.

Quando eu for gente grande de verdade, quero ter um pouco da grande mulher que ela é.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Festejo

É da minha natureza a timidez, assim como é do meu instinto o estado de festa, o desejo de celebração.

Tomar os últimos comprimidos, depois de seis meses de tratamento, em uma sexta calorenta de janeiro e verão...ah o dia não podia terminar mixuruca e por isso o evento foi organizado as pressas, porém muito bem frequentado: sentei nós cinco e Amanda em um restaurante gostoso e calmo em Campo Grande.

Com suco e batata frita, Rifamicina, Isoniazida e Pirozinamida pousaram ao meu lado para fotografias de uma despedida esperada e prevista há 6 meses.

Eu tava linda aquela noite, de decote e vestido, maquiagem nova, desfilando a encorpada, que não a tuberculose, mas que a saúde resgatada me deu.

Tem gente dizendo que tô gordinha, mas eu tô mesmo é imesnsamente feliz com cada característica nova que ganhei.

Fiz festa sim, pra comemorar um tempo que começa a ficar pra tras, pra virar história.

Devorei os remédios e uma lágrima ameaçou cair, mas eu tinha mais o que fazer...

Nós cinco ali sentados e um ano inteiro pela frente.

Respiro bem fundo pro que ainda vem e aguardo ansiosa e inquieta o laudo médico que só chega na outra semana.

Vai ter mais festa. Amém!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Espírito Santo

E o verbo se fez gato e habitou entre mim:

Deus se fez todo peludinho e ganhou o nome de Flokinho, só pra dormir de conchinha comigo!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Chegou por SMS

"Amiga, estarei sempre ao seu lado, conte sempre comigo. Pode me ligar a qualquer hora. Permita-se ficar triste e sofrer td que tiver que sofrer...teremos uma a outra sempre, T Amo! Acho que vou ao cinema agora, depois conto td. Estou tomando o sorvete novo do MC Donalds, tenho certeza que vc vai adorar.
Quando ficar boa, vamos ter que sair todos os dias, rs!
beijos
Carol Cavalcanti"

Algumas coisas na vida não chegam por um acaso, a amizade é uma delas.

domingo, 30 de agosto de 2009

De-li-ci-o-so

Hoje é terça-feira. Dia de tomar uma parte dos remédios da semana.
Hoje fui feliz uma noite inteira só por encontrar atenção no meio-termo completo que é encontrar Carol e Gabi para rir dos finais infelizes da vida adulta.

Elas me escutam com olhos úmidos e sorrisos cheios.
Sempre foi assim e fica cada vez melhor.
É bom envelhecer ao lado delas nas mesas dos restaurantes da moda que a gente vai conferir desde a adolescência.

Esse é um hábito antigo e comer e conversar horas, pra colocar meses de assunto em dia e 'pratos limpos'... isso sim é chorar as mágoas de barriga cheia.

Fico satisfeita, vó.
É perto de gente assim que também quero ser vó um dia.

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Ah, mas hoje é terça-feira, a penúltima em que tomo mais uma dose do remédio que é santo, mas me enjoa e arrepia até hoje - seis meses depois...

Começa agora meu reveillon pulmonar. Contagem regressiva. Hoje foi o 3, a próxima sexta é o 2 e daqui uma semana é o tão esperado 1.

É a virada do meu ano, se Deus quiser vou estar de branco, vou até a praia e vou agradecer.

O que mais vem por aí, eu não sei, mas já foi bom chegar!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Maluco Beleza

Ri a noite inteira no colo do meu pai. Da cara dos nossos parentes, da pose de macho dos nossos meninos (meus irmãos, seus filhos), das questões bobas da minha mãe... a gente se escangalhou e faltou ar pro que não parava de gargalhar em nós!


Me pai é 'doido de pedra', 'panquequinha da cabeça' e isso tudo relaxa o peso pesado que é o meu pulmão, precisando de reforma, argamassa...


Meu pai é louco, mas de delicadeza ele entende e faz de mim pronta em plena manutenção.


Meu pai me segura e me constroi com tanta gentileza, que ainda penso que o mérito é meu.


Tenho buracos se abrindo do meu lado direito, rasgos, furos, orgão puindo e na outra ponta, coração doendo.


Meu pai me costura, me borda, me faz respirar inteira, me enche de certezas e "me cura de uma loucura qualquer".


Meu pai me encanta e me prometeu que isso tudo vai passar. Agora eu sei!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Recado

Desculpe o mau-humor e o silêncio.
É que nos últimos meses muita dor nova apareceu ao mesmo tempo.

Fiquei cansada.

A impressão que dá é que eu tô começnado a 'pifar' no meio disso tudo.

Eu quero colo, mas eu não sei pedir e por isso fico bruta, sem querer.
Me desculpe...

Muitos beijos!
Eu amo você!!

Karla

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

...

Meu vô...

agora dorme nós - eu e você - vó, na cama que era de vocês.
Durmo com um nó na garganta, pensando nesse espaço que acomodei noite-a-noite, mas durmo bem, porque apesar de escuro, eu te alcanço e isso é luz!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Maré

Você levou um tombo na rua hoje, vó, e voltou de alma ralada.

Vi no seu olho a vergonha chata de se sentir velha. Não quis te dar consolo, foi meu jeito de dizer 'Te Amo e não vou dar atenção pras sua fraquezas', só assim a gente finge que elas não existem.

Buba anda pela casa, cansada de ser gata e se deixando levar pelo cotidiano e certeza de morrer.

Dindamima tá tristíssima e sem canto pra sentir do jeito que ela sente a falta de ser mãe do próprio pai.

Meu coração fatiadinho tentando administrar elegantemente a chatice de estar no meio de uma desilusão amorosa...

É porque eu não gosto de falar palavrão e você detestaria ouvi-lo, mas seu eu falasse e você escutasse de bom grado eu diria:

Tá foda...

Mas como entregar os pontos não é o ritmo que as mulheres dessa casa seguem...vou te dar boa noite, te sorrir e tentar dormir...se é que esse barulho que a vida faz, vai deixar.

ARREGO!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Tá decidido

Coração partido, mas meu pulmão direito ainda precisa de mim...

O lado esquerdo vai se curar sozinho.

domingo, 16 de agosto de 2009

08.01.09

Seriam dez meses, mas não é mais...

"e podia estar dando tudo errado pra mim, mas eu não quero, não quero..."

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Paisagens

"Sem lágrimas a alma não teria um arco-íris."

"No meio do inverno sempre nasce um verão invencível dentro de mim."

Palavras bonitas. Autores desconhecidos.

É tudo meu... o resto vai 'plantar batata e ver se eu tô na esquina'...porque eu não levo desaforo pra casa. Palavras - as bonitas - sim!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pra parar de pensar

Fui passear no shopping.
Eu adoro passear, mas nem tanto no shopping.
Comprei livros e maquiagens, meus prazeres de consumação.

Tem dias que o dinheiro traz sim felicidade...

domingo, 9 de agosto de 2009

'Cumpro a sina'

Da série: 'Levanta pra cair de novo e mais uma vez'

- O rapaz que gosta de fazer o papel de grosso, fala palavrão como quem pontua frases e trabalha com um revólver no bolso...
eu não o quis mais em minhas redondezas e disse isso com o coração decepcionadamente apaixonado.

Essa dor eu ainda desconhecia e sei que veio pra ficar...

A vida quer de mim é coragem.
Eu obedeço.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

2009

Não começou tudo de novo. Continua tudo de novo...


Que tudo "se tranquilize" no ano que vai nascer.


É só o que quero.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sem mais

Depois de praia, cinema, hamburguer e colo na volta pra casa, eu tinha nas mãos e pela frente um pacote com direito a uma semana a toa e turista para curtir o recesso de verão...

Algumas descobertas e o inverno chegou...alagando meu projeto e mandingas de "feliz 2009".

Tudo agora é frio. Mágoa. Lágrima.

Eu nunca reparei como mesmo em Janeiro, no Rio, podia fazer tanto frio. Eu tô gelada.

sábado, 1 de agosto de 2009

Na lanterna dos afogados

Hoje fiquei de frente pra ele - o mar.

Pensei na vida oceânica que me aconteceu esse ano.

Era eu morando em casa de areia, teto de sol com vista pro mar.
Thiela ao fundo falando sobre alguma coisa...

Nem deu pra ouvir, prestar atenção, era água demais me enxarcando pra dentro.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

"Num indo e vindo infinito"

Pré-tuberculose (ainda sem saber que esse tempo se classificaria na minha vida), eu e Thiela fomos ver de perto a mágica de flutuar na água.

Mar a dentro a gente curtiu nossa amizade sob o sol novo dos sábados amanhecidos na Barra de Guaratiba.

Foi uma descoberta primeiro dela, que fez brilhar a mesma vontade no meu olho.

Surfar foi novidade inédita no meu esteriótipo e foi bom contar e rir orgulhosa da surpresa que isso causava nos ouvintes.

A primeira aula me encheu de poesia, quando cercada de mar o professor me encaixou na espuma da onda forte e brusca que tinha sido antes de tocar em mim.
Em mim ela era veloz, mas soube do meu amadorismo e controlou sua fúria...
A fúria da beleza que é o mar se mexendo sozinho, sem pilha, funcionários especializados, chip ou combustível.

O mar se mexe sozinho com sua disposição particular, sua motivação solitária.
O mar se auto-alimenta, sustenta e não para e talvez seja esse o segredo da sua não-depressão, nem tristeza...

Ele não sossega e por isso segue em paz.

"O mar se mexe sozinho e sem ajuda e é feliz."
Foi nisso que especulei quando na tentativa-estréia de ficar em pé na prancha, o professor anunciou:
-Vai para a primeira onda da sua vidaaaa.

"O mar se mexe sozinho. O mar é pra sempre, não acaba, mas é simples..."
Era uma verdade tão imensa que eu esqueci que a idéia era tentar ficar em pé. Continuei deitada e simples na prancha, observando aquele cinema por si só me carregando pra areia.

Aquela foi A onda da minha vida!
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Onda vai, onda vem, eu toda prosa (e verso também) da delícia de ficar em pé na prancha...
me descobri tuberculosa e ficou entendido porque já não tinha tanto prazer em surfar: com o pulmão bichado, era esforço demais coreografar todo aquele movimento.

Surfar agora vai demorar. Talvez daqui uns anos...
mas isso não dá tristeza e por enquanto nem saudade.

O mar continua lá, se mexendo, se solucionando sozinho.
Isso eu quero também!
É por isso que fico de frente pra ele, pra decorar esse movimento.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Na medida do possível

2009 vai chegar depois de amanhã vó.

A partir daí vai ficar pra trás a exaustão e limites que 2008 me deu.

Eu primeiro pensei que esse foi um ano ruim, surpreendente no pior sentido que a palavra pode ter.

Foi sim pesado e bem triste e ainda é.
Difícil não. Eu diria que não, porque diante de tudo que me tomou, doer foi delicado, cruelmente delicado, mas bonito.

2008 me fez namorada de alguém que eu gosto muito que esteja por perto e levou pra 'longe' outro que já estava aqui quando cheguei e queria que estivesse pra sempre...

Gente que chega, gente que vai e entre uma coisa e outra essa dor no meu pulmão direito.

Cresci umas toneladas esses últimos meses. Saio mais forte pra chegar em Janeiro.

2008 foi um campo bem grande de se atravessar, mas foi possível.
2008 no calendário vai pro lixo. Sua grandeza vai morar em mim.

terça-feira, 14 de julho de 2009

21.11.08

foi o dia que eu soube que nunca mais vou ver novamente o sorriso torto do meu vô.

Também não vou ver seus reclames, elogios e orgulho e lindices e chatices e notícias e histórias e belezas...mas é do sorriso torto que eu vou sentir mais falta.

Esse furacão que me atravessa e o vento trouxe pra perto mais essa tristeza.

"Nunca mais"... é um lugar muito longe e de difícil acesso, por isso pensar nessa distância me cansa tanto.

"Não posso nada contra isso." Esse é também um caminho sem sinalização alguma.

"Eu nunca e eu nada". Eu fico exausta e sem palavras para encarar isso tudo. Silencio.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Procura-se beleza

Recesso de Natal e Reveillon e por isso só volto pro cotidiano trabalhador no próximo dia 5 de janeiro.

Aí já será outro ano, é outro calendário, outros planos. Outro sol.

Me culpo pela falta que me fez o cotidiano desse caderninho alaranjado que eu frequentava sempre antes de dormir enquanto estava de licença-tuberculose.

Foi aqui que pus em obra a estrutura balançante do meu corpo enquanto me curava do pavor de estar tísica.

Era um oxigênio a mais.
Era meu plus.

Esse caderno era o salão de beleza do momento estranho e descabelado que vivia.

Eu entrava nele vendo mil defeitos no meu estar e saía daqui bem mais bonita. Depois dele eu era barba, cabelo e bigode bem aparados e auto-estima em dia. Olhando doce e comédia pro drama de terror que me acompanhava.

Era uma dose de caderno e eu charmosa de novo encarando fresca o espelho.

O caderno sumiu da minha vista e olhar esses dois meses de trabalho...

é que muita coisa aconteceu que nem caderno dava conta dos novos desesperos: colocar a vida em ordem no trabalho, limpar a caixa de emails (milhares) rever amigos, confusas propostas de emprego, nova turma na pós-graduação, chorar o coma do meu vô, chorar a perda do meu vô. Entender essa nova e esquisita verdade...

Pra isso eu ainda não estava pronta e ainda não tive tempo, nem saúde pra entender.

Vó, estou de volta pro seu caderno, é com ele que converso pra entender essa zona.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

"Pro dia nascer feliz!"

Já é madrugada de novo, Flokinho dorme no meu colo.

Na escrivaninha a roupa separada e a mochila pronta me esperam.

Amanhã volto a trabalhar, depois de três meses em casa de licença-tuberculose.

Tento dormir cedo pra estar descansada pro evento, mas é impossível. O corpo deitado na cama é de criança inquieta e ansiosa como em noite pré-excursão escolar.

Até a merenda eu preparei. Voltarei cheia de novidades!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

"Tem certas coisas que eu não sei dizer..."

Depois de um longo e tenebroso inverno, o sol raiou.

Desci pra me expor a ele, cozinhar em banho-maria (orientação médica, que eu cumpro felizinha da Silva e sempre com um livrinho pendurado entre mãos).

Exercício gostoso que me levou a alguns cantos da infância vivida no grande condomínio Bella Torre (que continua imenso, mesmo agora que o olho com retina adulta).

Foi bom crescer aqui.
Assim como foi bom brincar, beijar o primeiro beijo, frequentar vizinhos, fazer festa, trabalho de grupo, andar de bicicleta com rodinha, andar de bicicleta sem rodinha, pique-pega, pique-esconde, pique-cola, ping-pong humano," descer pra conversar"...

O Bella Torre é chão e foi muro pra muita coisa que ainda mora em mim.

CENA PRODUZIDA NO MEU BANHO DE SOL:
O menininho do 6° andar do bloco 3 vinha caminhando com a mãe. Conversava, e de longe eu vi que ele encarou a mureta que divide o pátio do estacionamento, com uma coragem nova e viva demais para um homenzinho de 5 anos.

Deu vontade de pular e assim ele o fez. Largou do braço da mãe e num esforço comovente lutou contra o concreto que devia bater mais ou menos em seu ombro.

Ele deu impulso.
Ele pulou a plenos pulmões.
Ele caiu e levantou de novo.
Ele tentou outra vez.
Ele ajudou com os pés, como se afogasse.
Ele fez força com o braços, como se voasse...e arrastou o rosto, se arranhou, continuou puxando a barreira pra si.

Eu tive vontade de dar uma força, um pezinho, mas fiquei de longe torcendo para ele não desistir. Do êxito dele dependia a alegria do meu dia.

Se ele vencesse, bem na minha frente, com tanta dignidade - seria ele o herói, o super-homem que salvaria toda humanidade daquele dia.

O garotinho do outro lado do muro e Deus perdoaria toda face da Terra.

Para torcer pelo feito, meu corpo todo funcionava em sua direção. preso no que seria meu pequeno grande milagre.

Do lado dele, a mãe que não parava de olhar o relógio e fazia cara de "não tenho tempo para suas criancices" perdia a grandeza do momento e a lindice que era aquele rosto espremido de tanto fazer força.

Já quase sem força, ele olhou pra mim, como se desculpasse pela decepção e eu olhei pra ela com cara de " faça alguma coisa".

Ela entendeu, porque é mãe e recuperou o espetáculo perdido soltando a bolsa da mão e empurrando a bundinha do filho com uma ternura forte - dois adjetivos que naquele momento combinaram como nunca antes.

Ele foi.
Ele foi para o outro lado respirando cansado e vencedor.

Eu suspirei de emoção.
Ele transpirou, prosa de si.
Ela bufou, mas orgulhosa.

(como você pode ver, existem muitas maneiras de utilizar o ar que entra e circula pelo pulmões. - eu escolhi respirar pelos olhos. É bem mais bonito.
Há também muitas maneiras de ultrapassar muretas. Com empurroezinhos afetuosos é sempre a melhor delas.)

CONTINUANDO...
Meu Messias entrou então no carro com sua Maria e foi embora portão a fora.

Foi aí que me lembrei do meu super-homem parente: Guigui.

Se fosse ele o protagonista da cena que eu tinha acabado de co-dirigir - meu macaquinho de estimação teria deixado a mureta pra trás com o "pé nas costas" e finalizaria o golpe com aquela sua gargalhada bem safada.

Suspirei de novo e senti um amor imenso por ele, aquela vontade de abraçar que dá quando alguma coisa no dia, nos remete a alguém que a gente gosta bastante.

Abençoei o Guigui em pensamento e pedi a Deus para ser amada nesse mesmo formato durante o dia de algumas pessoas também. Será?



sexta-feira, 26 de junho de 2009

"Há um vilarejo ali..."

Estou a pouco de voltar para um lugar chamado rotina.

Voltarei mais leve e mesmo assim carregada de itens recém-incorporados a minha lista de sobrevivência diária.

Colocar essa teoria toda de forma prática...aí é que tá e essa vai ser a prova dos nove.

Volto com alegria e uma só dor no peito: deixar minha mãe sozinha nesse nosso lar imenso e vazio de nós, durante as semanas.

Tô pensando em morar mais aqui quando eu voltar pra aí, vó.

Quero minha mãe por perto: chega de saudade...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Alívio

Vó,
finalmente tive um fim de semana cheio de cheiros bons e conhecidos...

Já é primavera, mas da janela e na pele, ainda é o frio gelado do inverno que se sente.

Não importa. No sábado e no domingo fez sol de dentro pra fora porque estiveram aqui as Carois, Gabi, Thiela, Nath e Fernandinho (o povo do 4° andar) e o Thiago.

Rendeu disso tudo muito chocolate quente (receita que aprendi com você), os risos que me faltavam, a alegria da amizade e a festa que é ter colos antigos me dando espaço bem aqui no meu quintal - território particular e próprio que usei algumas vezes para chorar o desespero de não ser visitada e carregada da maneira que sonhei e queria.

Não faz mal. Me nego a dormir mais algum dia com aquela sensação sem fôlego e na experiência do abandono.

Tenho que parar com essa coisa de querer amor mais concreto, de presença mais sólida...

Onde eu estava com a cabeça quando achei que era isso que me salvaria da dor no peito?

Pois foi "sozinha" que eu me curei da loucura que é achar que o amor da condição de telepatia e bola de cristal às pessoas.

Tudo bobagem.
Foi em casa, com meu corpo e a duras penas que eu aprendi o que não saquei durante toda faculdade:

COMUNICAR. É desse jeito que a gente sinaliza aos queridos do que se gosta e como se sente bem. É desse jeito que a gente ganha carinho.

Informação é a alma do negócio, a palavra-chave e chave mestra.

Funciona assim. Eu digo: Estou precisando de você. E o você vem. É batata. Não é mágico?

E eu que achei que a magia estava em calar e esperar que o graçom trouxesse, na intuição, meu prato favorito. Tudo bobagem.

Fome se mata pedindo comida, berrando "Tô com fome", até os bebês sabem disso e eu do alto da minha montanha de ignorância, precisei me transformar em uma senhora, aos 25 anos, para entender esse fundamento.

1) - Amigos são só amigos e isso não lhes qualifica como cartomantes. Por isso quando precisar de algo, peça. Não espere que adivinhem.

PS: Essa verdade serve a pais, irmãos, namorado, ao cabelereiro e todo e qualquer produto ou serviço que você deseje consumir da maneira que idealizou.

Moral da história: O que é óbvio pra você, não necessariamente o é para os que estão em volta.

Portanto, aviso aos navegantes - ainda quero colo!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Claridade

É madrugada.
Olho minha mãe na foto do meu mural e sinto por ela um amor, mas um amor...
dá vontade de ir ao quarto dela, deitar do lado dela, sentir o cheiro dela e respirar junto com ela...

Me controlo, porque ela dorme e um rompante desse assustaria o meu amor.

Deito e mato minha vontade de mãe olhando seu lindo sorriso no retrato:
- Meu Deus como ela é linda!

Choro minha emoção e me odeio um pouquinho, porque durante o dia, quando ela tá ao meu alcance, a gente perde tempo com nossas questões mãe versus filha.

A gente é da paz e costuma se dar bem. Mas como temos esse parentesco, as mágoas inerentes ao cargo que ocupamos, me embaça a vista.

A luz do dia não é boa para provocar esse tipo de amor-rompante.

Por isso eu sempre preferi a madrugada, apesar de ter uma paixãozinha platônica pelo sol...

É que de madrugada tudo fica mais claro.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Ensolação

Tô deitada há horas tentando dormir.

Nesses meses em casa, foi inevitável: troquei o dia pela noite e como já era de se esperar ando acordando lá pelas 14hs, quando o mundo já deu voltas e a 'gente boa do meu Brasil' já ta na luta faz tempo...

Isso é bom, mas angustia, ás vezes.

Tem um poema da Adélia Prado que tem uma frase que ela 'fez pra mim' e toda vez que lembro, eu sinto uma conformação - do verbo resignar - tão inteira e boa...vou te contar:

"Lá o gado de Deus para pra beber água..."

E então eu me desenho uma vaquinha, malhada e mimosa no meio de um pasto largo, deserto e escoltado por um sol escaldante, daqueles que fazem a gente respirar difícil (mesmo quando se tem o pulmão inteiro) ...

As vacas e os bois idem, sabem que seu destino é pastar e que embora não pareça, isso tudo dá um trabalho danado.

Mas esse não é um gado qualquer, ele é de Deus e por isso ganha o direito de relaxar, respirar, descansar... bebe sua aguinha na sombra, pra só então pertencer a lida gordurosa e suada que é a vida.

A conclusão desse devaneio todo, vó, é o seguinte:
Esse tempo em casa, que a meus olhos as vezes incomoda, por ter roupagem ociosa, foi o break que Deus me permitiu pra matar a minha sede, me refrescar.

Vem mais sol por aí e pra segurar essas pontas, Ele sabe que eu precisei me irrigar pra dentro.

Tô prontinha e adubada pra nova estação.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Aquarela

Ai vó,
tem dia que tudo parece estar por um fio.

A gente estranha nossos afetos, sente dúvidas que não queria, chora dores escondidas e o resultado disso tudo é uma bateção de cabeça, uma loucura louca...a gente se ofende, cria ressentimentos "a pão de ló", pra no fim do dia, quando travesseiro nos deita a cabeça e a gente retoma a consciência, concluir: quanta bobagem, quanto tempo perdido...

Com o tempo tudo desbota. Por isso tô entendendo hoje que não adianta tanta caraminhola.

Vou cantar, porque com música talvez essa verdade fique mais bonita.

Cantorolando então eu te explico: "...numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo (que descolorirá)
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo (que descolorirá)
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo. QUE DESCOLORIRÁ."

A verdade é essa, vó! E a moral da música me diz que certo mesmo é o fim.
Por enquanto então o que tem que valer a pena é o desenho - mesmo sendo apagável.

...mas tem dias vó, tem dia que eu esqueço disso.
Hoje, por exemplo.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Literalmente

Amuado.
Bonita palavra que li num livro e lembrei de você, vó.

Não que pra mim você tenha essa imagem. Não sempre, só as vezes, mas acho que o lembrete me veio porque essa é uma palavra difícil de se ouvir hoje em dia.

No tempo de hoje a gente falaria que o sujeito "tá estressado".

Ôh praga essa mania e obrigação moderna: stresse.

Eu, por mim, prefiro as palavras de antigamente ou as que ainda vou inventar, poetando meus pensamentos.
É, eu também gosto de verbear diferente, fazer falsetes e só por brincadeira ser um pouco Machado de Assis.

Amuado é coisa que só vó diria, mas uma vó como você - rara, assim como a palavra.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ah não.

Era bom demais pra ser verdade, vó:

" -Karla, hoje você só vai tomar as duas cápsulas vermelhas, pois os comprimidos branquinhos estão em falta...", declarou a enfermeira do posto.

Olha o SUS querendo se meter no meu video game...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Jogatina

Vó, fui hoje tomar remédio no posto. Não ia desde a última quinta-feira.

Agora o percurso é menor. Semana passada teve consulta, a médica avaliou o mais caçula dos meus Raio-X e me contou e mostrou que o buraco que era arrombado no pulmão meu, direito, começa a minguar e posou pro exame bem menos próspero que o primeiro.

Bingo!
Fase 1 concluída com êxito e alguma elegância - afinal charme não me falta.

Dei partida para a fase 2. Sigo então 'videogamezando' esse jogo tuberculoso que me desafiou sem perguntar se eu tinha tempo pra jogar.

Mas você sabe há mais tempo que eu, vó. A vida quando cisma põe suas manguinhas de fora e pertuba - que nem criança aos berros:
- Brinca comigooo!

A gente quer ser adulto, diz que tem mais o que fazer e é bem nesse momento que ela arma e fala grosso:
- Quero agora e não vou falar de novo!
(e ainda resmunga)

Como também sei quem manda aqui, eu enfiei o rabinho entre as pernas, sem nenhuma elegância e sigo obedecendo - afinal juízo não me falta.

TECLA SAP: depois das primeiras quarenta doses a nova radiografia que tirei, comparada com a primeira, deixa claro que a lesão no pulmão está cicatrizando de vento em popa.
Por isso a médica receitou que agora, remédio só duas vezes na semana (terças e sextas) - sem contar que os comprimidos da vez são bem miudinhos - ufa!

Fase 2...vou tirar você de letra! Gostei da brincadeira.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

De verdade

Flokinho. Esse é o nome do ar que respiro pelo ouvido, vó.

Sabe que ele cismou de dormir toda noite sobre meu cabelo (seu gatinho de estimação) e com o nariz agarrado na minha orelha?

Ele inspira e expira, fazendo questão 'deu' escutar, de dividir essa rotina vital também aos felinos...

Melzinho, o irmão dele, morreu sem ar e isso eu e ele já curamos faz tempo.

Flokinho é meu amigo e desconfio que desenvolveu esse novo hábito ao dormir respirando pra dentro de mim, que é pra avisar que se me faltar ar, ele me empresta.

Amizade é isso. 

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Remédios:

1-MÃE
2-casa
3-Flokinho
4-Rafimicina
5-Izoniazida
6-Pirazinamida
7-TV
8-livros
9-comida
10-o caderno de fita alaranjada
11-sol
12-dinda Mima
13-mágica
14-o 4º andar
15-Thiago

Assim fica fácil, vó.

Te falta conhecer o último da lista...
Não me falta mais nada.

sábado, 16 de maio de 2009

Protegida

Um milagre aconteceu no meio dissso tudo, vó:

um amor nasceu durante a decomposição do orgão que uso pra respirar.

O Thiago me dá suspiros. Coisa que acontece dentro do coração... e lá, Koch (o bacilo) não chega. Meu amor não deixa.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

"Eu venho a tona de todos os meus naufrágios..."

poema de Mario Quintana, vó, e que hoje é meu...depois de desafundar da trsiteza que me deu esse fim-de-semana.

Que bom que tudo passa, que "eles passarão e eu passarinho".

Preparando para a decolagem, porque hoje já tenho como voar.

Ontem eu não tinha Espírito Santo.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Cega

Hoje vó, eu quero silêncio pra chorar as minhas dores, muitas...

Não gosto de abrir a boca
Não gosto do som
Essa barulheira...

Se me deixarem ser muda, eu seria menos triste, muito.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Irmandade

Dei uma pausa da leitura agora, vó, e fui ao banheiro fazer xixi.

No caminho me encontrei com o quarto dos meninos.
Os dois dormem profundamente.
Fiquei olhando o vai e vem de seus peitos, puxando e devolvendo o ar.

Já viu como é bonito?

Tem uma cadência, um ritmo, um barulhinho bom de vida entrando pelo nariz e passando rápido e certeiro pelo sistema respiratório.

Bonito mesmo. João e Pedro respirando...
Em pensar que ninguém ensina isso a um bebê humano.

Eles são meus irmãos. Isso a gente também já nasce sabendo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Mandamentos

"Arrastar a cadeira para fora da zona de sombra e sentar-se um pouco ao sol."

"Essa mesa, esse filho e aquele amigo...tudo nos convoca."

"O mais banal com algum encantamento."

"Para viver qualquer fase com alegria, viver com elegância e vitalidade, é preciso acreditar que vale a pena."

"silêncio-ativo"

"Para decidir isso precisamos abrir espaço de recolhimento, observação, auto-observação"

"No silêncio de minha casa, de meu corpo, de meu pensamento, na força de minha decisão"

(trechos de Lya Luft em Perdas e Ganhos)

sábado, 25 de abril de 2009

Suspiros

A vida destapa um santo, pra cobrir outro.

Meio pulmão vai embora que é pra abrir espaço confortável pro coração em crescimento.

Troquei meio lote de ar pra caber sentimentos acelerados.
Deslumbrado com tudo que anda sentindo, meu coração é amador e não saberia onde guardar tanta grandeza.

Tenho sentido amor pelo homem que me beija. É por isso que precisei de espaço para acomodar a novidade...

As bactérias são sempre profissionais.
Sempre sabem a que vieram.

Disso eu não duvido.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Semelhança

Li hoje que economicamente a capital do Rio de Janeiro está sufocada.

Pra resolver essa confusão, os investimentos agora serão dirigidos para o interior do estado.

Pro centro respirar melhor, o interior vai receber incentivos, melhorias nos serviços, avanço nas comunicações e qualificação da mão de obra.

Tá vendo, não é só comigo que anda faltando ar.

A cidade está tísica, igualzinha a mim...

Por isso olhamos na mesma direção - pra dentro! E somos maravilhosas. As duas.

domingo, 12 de abril de 2009

Que bonito é

Meu pulmão se regenera, brota de novo e me deixa bonita porque sou uma mulher gerando vida nova acima do meu ventre.

Sou eu grávida de mim. Preparando outra pessoa, outro orgão em estado e condição de primavera: pulmão florescendo.

Quero flores por perto, respirar seus cheiros, pra ajudar no reflorestamento da minha Amazônia própria.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Classe média

Ganhamos uma televisão hoje e outra ontem, vó.

A primeira foi meu vô que deu: 40 polegadas, plasma, encontrou lugar na meiuca de nossa sala.
A de hoje foi presente do Tio Ari. Idêntica a primeira, porém mais miúda: 26 polegadas, ainda meio 'peixe fora d´agua', aguardando o lugar ideal para estacionar em nosso doce-lar.

Além disso temos três carros, dois computadores, um DVD, vários celulares, água quente, MP3, microondas, fax, impressora. Alguns livros...
Um pulmão e meio. Quase dois.

Falta alguma coisa?
Não. Tenho tudo e nem escrevi nada.

E ainda dizem que o que tenho é o "mal da miséria"... vai entender, né?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Tô doida

Vim do quarto dos meus pais bem agora, vó.

Dei boa noite, depois de boas risadas juntos com a televisão e sentei pra escrever pra você.

Li os textos de trás e respirei um ar agora tão limpo e fácil, que se não fossem as embalagens dos remédios na escrivaninha... - porque mesmo que estou doente?

Mas de fato estou e é do pulmão (um só, o direito).

O coração bate bem e forte e muito. É bom estar em casa, rir da TV e ter boa noite com pai e mãe juntos.

Estou preenchida.

Começo a sentir amor pela doença... Acho que me apeguei. Será?

domingo, 5 de abril de 2009

Bobeira

O dia em que ela descobriu ser praticamente um Yakult - com bacilos vivos.

...vem mais por aí! hi hi hi

Outras descobertas:
1) - Sou um peso pra economia desse país - recebo salário pelo INSS (sem estar trabalhando) e ainda gasto a grana da saúde pública.

Quem foi que disse que ao 25 anos o sujeito é economicamente ativo?
E O PIB - produto interno bruto - crescendo em colônias dentro de mim.

2) - João disse que sou pão dura até pra ficar doente. "Escolhi" uma doença em que o tratamento é todo bancado pelo governo, não sai um tostão do meu bolso! Oba! ha ha ha

3) - É realmente saudável rir da nossa própria cara. Não se levar tão sério...

É por isso que entre um intervalo e outro, eu enxugo o rosto e faço comédia disso tudo.

sábado, 4 de abril de 2009

É preciso saber viver

Se me perguntassem hoje, que parte do meu corpo eu mais gosto:
O olhar
...é dele que eu vejo tanta beleza enquanto isso tudo acontece.

'O Boticário' tem razão:
BELEZA CONTAGIA.
Nisso eu acredito.

ps: "Olhos oblíquos, de ressaca..."
Isso também é bonito, mas só na Capitu - do Dom Casmurro.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

AMORtecedor

Essa bactéria que me atrapalha a respirar fluindo, desarmonizou meu ambiente interno, meu auto-feng shui.

Energias andam se estranhando entre fígado, intestino e útero.
Confusão das boas travada entre planos novos, idéias antigas e neuras de sempre.

Eu quietinha, de cama e esse bando todo correndo em minha direção.

Quero fluir, respirar aliviada, mas sinto entrar pelos poros a grandeza enorme que esse capítulo traz pra minha biografia.

Organização. Impacto na queda usando um coração anatômico...é tudo que preciso para deixar essa zona bem bonita.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Deu no Raio X

O dia em que ela descobriu ter um 'coração com dimensões anatômicas'.

...vem mais por aí!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Dueto

Bactéria e amor foi o ritmo que descobri dentro de mim, vó.

Quero contar sobre dores, o tempo que não me espera, a burocracia chata de conseguir auxílio-doença do INSS e o coração que o Thiago me botou na mão quando ligou e informou: "estou internado".

Tudo pro capítulo de depois, talvez amanhã.

Por ora ando estática, sem reação nem textura pra descrever isso tudo.

Talvez amanhã.

domingo, 29 de março de 2009

Travada

Estou em guerra.

Tudo em mim luta com um bicho sem raça. Atrás de um caminho sem volta. E é só isso que sei.

O pau anda comendo por dentro e eu aqui fora lambendo os beiços por qualquer espécie de carinho. E o que sei é que não era pra ser assim.

Tô sem sentido e palavras pra descontar no que - apesar de tudo - é meu melhor desafio.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Arco-íris íntimo

Droga é o que não falta, no momento, dentro de mim.
Todo santo dia eu trato de recarregar com quatro comprimidos brancos e duas cápsulas vermelhíssimas.

Ainda bem que todo o resto do meu interior é bem colorido.

Não tem química capaz disso. Ou você nasce assim, ou adoece pra sempre...

Desse susto eu não morro.

domingo, 15 de março de 2009

Sabedoria

Amanhã vou te ver. Amanhã volto pra esse reino que era nosso semanalmente e de onde eu saí correndo quando descobri bactérias fazendo de mim o "pão de cada dia".

Vou a Copacabana para consulta com a Dra. Celi e vou te visitar.

Bichos andam se fartando do meu interior e eu aqui fora tendo que sorrir pra não te manifestar a minha dor.

Você não sabe de nada vó. Não mesmo? Ou tá brincando pra não estragar a surpresa?

A cena é antiga, boa, mas a lógica é a mesma: a gente chega na sua casa pro almoço de domingo.
Antes de apertar a campainha, nosso pai e nossa mãe nos dão tempo e corremos para o esconderijo atrás da porta corta-fogo-da-escada-do-prédio.
Você abre a porta de casa sorrindo dos pés a cabeça e ensaia um espantamento doce, perguntando:

-Ué, as crianças não vieram?
(a voz é alta e nuvem e a gente atrás da parede mágica escuta todo o teatro com ansiedade e cheios de felicidade)

Do esconderijo, a gente deita naquelas palavras (com a tranquilidade que sente quem é amado) e fica atento para a hora do 'gran finale', você continua impecável em seu papel:

-Puxa, que pena...
(e suspira com dramática tristeza) ...

A gente avança porta a dentro e corre pra te abraçar, linda e de braços abertos.

Era tudo brincadeira. Nós todos sabíamos disso.
Atrás daquela porta, no fundo, nós três também sabíamos que você sabia que a gente tava se escondendo, mas era bom repetir o mesmo roteiro toda visita.

Fingir não saber das coisas, as vezes, é mesmo o melhor papel que a gente pode fazer pra não estragar a surpresa.

Você sabe mesmo das coisas, né vó?

Auto-ajuda sim, e daí?

"Relaxe, sinta-se bem. Isso é tudo que às vezes podemos esperar da vida."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)

"Pedir a Deus para me inspirar a continuar."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)

"Meu Deus, não desista, até que eu consiga tomar a forma que espera de mim. Tente da maneira que achar melhor, pelo tempo que quiser - mas jamais me coloque no monte de ferro velho de almas."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)

"Esse é o objetivo da vida - a revelação!"
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)

"Dar a vida a atenção que ela merece."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Exagerada

Bateu tristeza hoje. Daquelas que vem que nem temporal. Forte. De uma vez só. Enxurrada.

Tenho prestado atenção nos meus defeitos: os velhos e os de agora.

Não sei se são os remédios, essa solidão estranha, o desconforto no pulmão... a verdade é que esse catatau de sensações diferentes que ando inaugurando, fez de mim uma gente severa, sem espaço pra desculpas, perdões.

Descobri em mim uma ala bem egoísta que decretou que a vida dos meus afetos deveria parar e enxergar só o problema que vivo agora.

Os que não estão fazendo isso, estão drasticamente me desacatando a autoridade que lhes era prestada com meu amor e amizade.

Não sei se esse vento ou a feiura que enxergo no meu rosto hoje, mas ando sofrendo com essa desimportância toda.

Não sei se é essa correria de todo dia, a globalização ou a inflação alimentícia, mas ando achando que as pessoas se esqueceram que quando alguém que a gente gosta tá doente, é hora de parar a maratona e as contas e emprestar um pouquinho de ar pro ser frágil e sufocado que sou eu, bem nesse momento.

Agora - já conseguindo teto pra raciocinar, penso que ando exagerando nas cobranças e no odiozinho que senti de alguns desatentos e descuidados que não me prestaram os primeiros-socorros e que no meu coração tuberculoso merecem prisão perpétua pela omissão.

...

Tudo exagero da minha parte, eu sei, e dessa loucura eu já tô curada...tenho certeza.

...mas que foi um absurdo as Olimpíadas de Pequim não serem adiadas. Ah isso foi.

E por falar em primeiros-socorros, a brigada exemplar foi: Dinda Mima, Manu Sollero, Vera Cordeiro, pai, Renata (prima), mãe, Flokinho, Carol (a do meio), João, Thiago, Tia leninha e a escrita.
Necessariamente nessa mesma ordem!

terça-feira, 10 de março de 2009

O tratamento

Nunca vou me esquecer o primeiro dia que entrei no posto de saúde de Campo Grande para me cadastrar no programa de tuberculose.

O nome da doença que era dita como maldita há uns dois seculos, pesava uns quilos enormes e pesados nas minhas costas.

Eu, que como jornalista, sempre estive nos hospitais públicos da rede de saúde pra fazer matérias e acompanhar o drama dos outros, começava a escrever o meu.

Sabe vó, quando você ler essas minhas recordações febris - talvez essa longa estrada de onde eu começava do início agora, já esteja no final e então eu possa te contar que esses seis meses passaram rapidos, que foi moleza e tal, tal, tal...mas para ser bem sincera no começo foi o ó.

Imagina alguma coisa do tipo: seu filho João Neto brigando com metade do corpo de enfermeiras (com todo aquele bom-humor exacerbado de quando é contrariado)...

Imagina eu - que nunca consegui engolir comprimidinhos ( e você fez comigo uma corrente de torcida, na cozinha da sua casa todas as vezes que eu havia tentado aqueles pra dor-de-cabeça, lembra?) tendo agora a "feliz" notícia de que di-a-ri-a-men-te teria que incluir mais uma rotina no meu cotidiano: engolir, e na frente dos enfermeiros, seis comprimidões todo santo dia nos próximos seis meses.

Definitivamente, foi o ó.

É bem verdade que nunca foi tão bom ser cria do seculo XXI. O avanço da medicina e dos tratamentos para minha doença me absolveram, de forma bem classuda, dos ataques que meu pulmão sofreu pelo bacilo de Koch.

É claro que bem nesse momento eu sou eternamente agradecida por usar calça jeans, trabalhar com internet e conhecer os sintomas do aquecimento global. Isso tudo me caracteriza como um ser tecnológico que pode desfrutar das delícias desse milênio. Do contrário, se Deus tivesse seguido meus desejos de ter encarnado na Terra como 'dama antiga', princesa colonial ou camponesa feudal, a tuberculose me deixaria na lona e todos os meus sonhos iriam pro beleleu!

(Benza Deus, o cara sabe mesmo o que faz)

Pois bem. Em janeiro paro o tratamento - ou melhor - finalizo, sem resquísios, e serei uma nova mulher. Você vai ver.

Talvez pela data oportuna, terei que inventar um carnaval "daqueles" para eu e meu pulmão (dessa vez novinhos em folha) pularmos as marchinhas, sambas e axés cheios de gás novo.

Você vai ver. Sairemos eu e ele no bloco "Unidos do Oxigênio", de mãos dadas e embriagados (a versão princesa teria bem mais charme, garanto. Porém bem menos saúde).

Misturando isso tudo com folia, parece até que na "hora tão feliz" (como costumo debochar do momento de tomar o remédio) tudo é molezinha...né não.

Bate um desespero e vontade de vomitar tudinho, mas aguento firme.Engulo o choro, o enjôo e a frescurite aguda e mando aquela drograria toda goela abaixo.

Hoje já é a décima segunda dose e (você ficaria orgulhosa de mim) cada vez mais bato meus próprios recordes. Tenho diminuido meus tempos e quantidade de líquido ingerido. Uma verdadeira superação olímpica (em época de jogos em Pequim).

Qualquer dia te mostro. Você vai ver!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Desabamento.

Agora que me chega a notícia de que não sou mais um alguém radioativo (o novo teste do escarro me garantiu que não sou mais bacilífera - não transmito a doença) deu vontade de escrever sobre o escombro que se fez em mim:

A tarde tinha uma cor bonita, de Inverno indo e vindo, sol clarinho chegando só pra ser luz, sem lamber a gente de calor.

Era segunda-feira e por ser chamada assim esse cotidiano de hoje seguia correndo como todos os outros. Praxe: tinha emails, reuniões, telefone e hora pra tudo – menos pra comer e deixar sentir aquele cansaço todo que me invadia.

(ontem teve FLIP – porque o cara que é meu pai, fez das tripas coração e de manhã cedinho chegou cheio de sorrisos para nos encaixar naquele cenário que gosto tanto - Paraty.)

Parei para o almoço lá pelas 15hs – momento em que nem fome se tem mais. E foi na mesa mesmo (e do trabalho) que escutei pela primeira vez o nome tuberculose.

Fiz ouvido de mercador, coloquei o carro na frente dos bois e lá fui eu trabalhar como desculpa de não ter tempo de pensar no que aquilo tudo bagunçaria a minha vida.

PNEUMOPATIA ESPECÌFICA. Era a cara do bacilo tuberculosis morando dentro do meu pulmão.

Cheguei na médica chorando, sem entender o porquê do desespero. Procurei calma respirando fundo, mas a dinda Mima percebeu o abatimento anexado, na cara.

Do consultório para o laboratório. O percurso bem que rima, mas isso tudo não tinha jeito de poesia e muito menos graça. Isso tudo não tinha graça nenhuma.

PCR, PPD, Escarro. A promoção me garantia o diagnóstico: faça os três exames e leve a tuberculose pra casa!

Aliás tive que abandonar Copacabana as pressas. O combinado era não deixar nem você vó, nem meu vô sabendo o que realmente estava acontecendo. Além de representar um risco de contágio pra vocês dois – velhinhos que já tem problemas demais pra somar com o meu (ele com efisema pulmonar e você que acabou de tirar o cancêr que levou sua mama direita junto).

Meu terreno agora era Campo Grande. De segunda a segunda. Sem trem nem trabalho, nem pós-graduação, nem lugar nenhum além do “quintal de casa”, perto de pai e mãe.

Daí você percebe que rotina é coisa boa demais. Coisa que só se sabe quando é interrompida. E a minha foi.

Chorei baixinho e muito, que era pra tentar diminuir o latejo que fazia em mim. Tudo em vão.

Começar a fazer as pessoas saberem era a pior parte. Não sei se é coisa minha, mas em um colapso como esse, falar, conversar, desabafar, não alivia. Dói bem mais.

João chegou em casa bem mais abobalhado que eu.
Chorava em linha reta, me abraçava com força, soluçava pra falar e repetia tresloucado: como você não, isso não podia ter acontecido com minha irmã!

Vendo aquele grande amigo se derretendo em infelicidade e uma culpa desajeitada e fora de lugar, fiquei forte e acalmei.

Sentamos eu, minha mãe e ele e expliquei aos dois o que já tinha sido me dito: a doença é grave, mas não vai me matar se eu souber cuidar dela disciplinadamente, tomando os remédios e monitorando sua evolução. Em algum tempo, talvez nos próximos seis meses, tudo voltaria ao seu devido lugar.

Depois foi a vez da Carol (a do meio, a de Mangaratiba) que parece que sabe das coisas e me ligou bem na hora que a dor me queimava mais. Contei pra ela como quem conta uma tragédia.
Como tudo em sua voz e palavras me deixam em casa, não fiz cerimônia e dasabei em cima dela, que por causa e efeito desabou em mim. Ficamos as duas a nos prometermos que tudo ia ficar bem e desligamos cheias de prantos e medo.

Depois desse despejo e por já ter desaguado o dia inteirinho, atendi o Thiago decidida a contar as novas notícias (já que no dia anterior eu tinha negado isso a ele – acho que mais por vergonha do que por medo. Eu tava me sentindo suja e era difícil admitir isso ao moço que me beija na boca.)

Então do outro lado da linha ele respirou aliviado (acho que tinha pensado em algo pior e tava assustado com tanto suspense) e me fez rir e respirar, falando algumas bobagens e piadinhas.

Por isso tenho dito e repito: o rapaz que gosta de fazer o papel de grosso, fala palavrão como quem pontua frases e trabalha com um revolver no bolso – quem diria! – me fez um carinho danado e calmante em meio ao drama relâmpago que tinha me ameaçado o dia todo.

Fui dormir mais tranquila e adiando o desespero para o dia que nasceria amanhã.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Pra agora.

Alma de ouvir:
"Não pesar os outros com nossa presença é um raro estalo de sensibilidade...
Todo mundo quer carinho, todo mundo quer ser visitado...
Sendo assim, bilhetes, livros e quindins na portaria não é distância: é só outro tipo de abraço."
(de Martha Medeiros, Quindins na portaria)

Coração de escutar:
"A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular. Algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é uma só: ninguém tem dúvida sobre si mesmo."
(de Martha Medeiros, O grito)

Transformação:
"A felicidade muda de significado várias vezes durante a vida."
(de Martha Medeiros, Felizes para sempre)

Movimento:
"É preciso um pouquinho de turbulência pra gente acordar e sentir alguma coisa, nem que seja medo."
(de Martha Medeiros, Felizes para sempre)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Pra depois.

Enquanto ela ainda se aconchega, busca lugar dentro de mim..., as pessoas brincam. Me querem rindo disso tudo.

Ainda não tem graça, gente.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Por causa do isolamento.

Choro no meio da noite porque é tarde em mim.
Choro porque é noite em mim.
Choro porque adoeci e não posso abraços.
Queria agora dormir no peito da minha mãe, dormir de tanto chorar na sua saboneteira, mas não posso e o nome dessa minha dor bate - me bate do lado direito do peito.

Na banda esquerda, meu coração dorme dormente.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Agora não. Estou chorando.

Tuberculose é o nome do que bate do lado direito do meu peito.
E esse é o nome também que me apavorou e chegou pra redimensionar tudo em volta.

A tuberculose tirou meu fôlego. Chegou no susto, ou se mostrou pra mim assim.
Pra ser bem fiel aos fatos e olhando a 'bichinha' bem de perto, descubro que ela tem a minha cara: não fala o que sente, respira apenas e não grita nem quando está com dor.

Pois bem, ela chegou pra ficar e por isso chove em mim...
Ainda bem, "para que flores não faltem jamais".

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Vó,

Fiz aqui nossa conversa enquanto eu não podia te assustar com minha novidade mais medrosa: A Tuberculose.

Escrevi tudo, que é pra não te deixar de fora dos detalhes que estavam todos dentro de mim.

Agora ta tudo aqui, nesse meu caderno de fita alaranjada.

Não se assuste mais. Não dá mais tempo. Já passou…

Leia só pra dividir. Não precisa sofrer. Sua companhia alinhada aqui nesse nosso espaço, me curou de muitas dores e me fez respirar mais bonito.

Obrigada pelos abraços que te dei com minha caneta e pela amizade oculta.

Saiba: Não só estou curada. Me sinto assim.

E é por isso que vou continuar nessa profundidade.

Isso tudo não foi a toa.

Vou fazer isso crescer daqui pra frente. Você vai ver. Você vai ler.