Bactéria e amor foi o ritmo que descobri dentro de mim, vó.
Quero contar sobre dores, o tempo que não me espera, a burocracia chata de conseguir auxílio-doença do INSS e o coração que o Thiago me botou na mão quando ligou e informou: "estou internado".
Tudo pro capítulo de depois, talvez amanhã.
Por ora ando estática, sem reação nem textura pra descrever isso tudo.
Talvez amanhã.
segunda-feira, 30 de março de 2009
domingo, 29 de março de 2009
Travada
Estou em guerra.
Tudo em mim luta com um bicho sem raça. Atrás de um caminho sem volta. E é só isso que sei.
O pau anda comendo por dentro e eu aqui fora lambendo os beiços por qualquer espécie de carinho. E o que sei é que não era pra ser assim.
Tô sem sentido e palavras pra descontar no que - apesar de tudo - é meu melhor desafio.
Tudo em mim luta com um bicho sem raça. Atrás de um caminho sem volta. E é só isso que sei.
O pau anda comendo por dentro e eu aqui fora lambendo os beiços por qualquer espécie de carinho. E o que sei é que não era pra ser assim.
Tô sem sentido e palavras pra descontar no que - apesar de tudo - é meu melhor desafio.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Arco-íris íntimo
Droga é o que não falta, no momento, dentro de mim.
Todo santo dia eu trato de recarregar com quatro comprimidos brancos e duas cápsulas vermelhíssimas.
Ainda bem que todo o resto do meu interior é bem colorido.
Não tem química capaz disso. Ou você nasce assim, ou adoece pra sempre...
Desse susto eu não morro.
Todo santo dia eu trato de recarregar com quatro comprimidos brancos e duas cápsulas vermelhíssimas.
Ainda bem que todo o resto do meu interior é bem colorido.
Não tem química capaz disso. Ou você nasce assim, ou adoece pra sempre...
Desse susto eu não morro.
domingo, 15 de março de 2009
Sabedoria
Amanhã vou te ver. Amanhã volto pra esse reino que era nosso semanalmente e de onde eu saí correndo quando descobri bactérias fazendo de mim o "pão de cada dia".
Vou a Copacabana para consulta com a Dra. Celi e vou te visitar.
Bichos andam se fartando do meu interior e eu aqui fora tendo que sorrir pra não te manifestar a minha dor.
Você não sabe de nada vó. Não mesmo? Ou tá brincando pra não estragar a surpresa?
A cena é antiga, boa, mas a lógica é a mesma: a gente chega na sua casa pro almoço de domingo.
Antes de apertar a campainha, nosso pai e nossa mãe nos dão tempo e corremos para o esconderijo atrás da porta corta-fogo-da-escada-do-prédio.
Você abre a porta de casa sorrindo dos pés a cabeça e ensaia um espantamento doce, perguntando:
-Ué, as crianças não vieram?
(a voz é alta e nuvem e a gente atrás da parede mágica escuta todo o teatro com ansiedade e cheios de felicidade)
Do esconderijo, a gente deita naquelas palavras (com a tranquilidade que sente quem é amado) e fica atento para a hora do 'gran finale', você continua impecável em seu papel:
-Puxa, que pena...
(e suspira com dramática tristeza) ...
A gente avança porta a dentro e corre pra te abraçar, linda e de braços abertos.
Era tudo brincadeira. Nós todos sabíamos disso.
Atrás daquela porta, no fundo, nós três também sabíamos que você sabia que a gente tava se escondendo, mas era bom repetir o mesmo roteiro toda visita.
Fingir não saber das coisas, as vezes, é mesmo o melhor papel que a gente pode fazer pra não estragar a surpresa.
Você sabe mesmo das coisas, né vó?
Vou a Copacabana para consulta com a Dra. Celi e vou te visitar.
Bichos andam se fartando do meu interior e eu aqui fora tendo que sorrir pra não te manifestar a minha dor.
Você não sabe de nada vó. Não mesmo? Ou tá brincando pra não estragar a surpresa?
A cena é antiga, boa, mas a lógica é a mesma: a gente chega na sua casa pro almoço de domingo.
Antes de apertar a campainha, nosso pai e nossa mãe nos dão tempo e corremos para o esconderijo atrás da porta corta-fogo-da-escada-do-prédio.
Você abre a porta de casa sorrindo dos pés a cabeça e ensaia um espantamento doce, perguntando:
-Ué, as crianças não vieram?
(a voz é alta e nuvem e a gente atrás da parede mágica escuta todo o teatro com ansiedade e cheios de felicidade)
Do esconderijo, a gente deita naquelas palavras (com a tranquilidade que sente quem é amado) e fica atento para a hora do 'gran finale', você continua impecável em seu papel:
-Puxa, que pena...
(e suspira com dramática tristeza) ...
A gente avança porta a dentro e corre pra te abraçar, linda e de braços abertos.
Era tudo brincadeira. Nós todos sabíamos disso.
Atrás daquela porta, no fundo, nós três também sabíamos que você sabia que a gente tava se escondendo, mas era bom repetir o mesmo roteiro toda visita.
Fingir não saber das coisas, as vezes, é mesmo o melhor papel que a gente pode fazer pra não estragar a surpresa.
Você sabe mesmo das coisas, né vó?
Auto-ajuda sim, e daí?
"Relaxe, sinta-se bem. Isso é tudo que às vezes podemos esperar da vida."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)
"Pedir a Deus para me inspirar a continuar."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)
"Meu Deus, não desista, até que eu consiga tomar a forma que espera de mim. Tente da maneira que achar melhor, pelo tempo que quiser - mas jamais me coloque no monte de ferro velho de almas."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)
"Esse é o objetivo da vida - a revelação!"
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)
"Dar a vida a atenção que ela merece."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)
"Pedir a Deus para me inspirar a continuar."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)
"Meu Deus, não desista, até que eu consiga tomar a forma que espera de mim. Tente da maneira que achar melhor, pelo tempo que quiser - mas jamais me coloque no monte de ferro velho de almas."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)
"Esse é o objetivo da vida - a revelação!"
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)
"Dar a vida a atenção que ela merece."
(de Paulo Coelho, em Bruxa de Portobelo)
quinta-feira, 12 de março de 2009
Exagerada
Bateu tristeza hoje. Daquelas que vem que nem temporal. Forte. De uma vez só. Enxurrada.
Tenho prestado atenção nos meus defeitos: os velhos e os de agora.
Não sei se são os remédios, essa solidão estranha, o desconforto no pulmão... a verdade é que esse catatau de sensações diferentes que ando inaugurando, fez de mim uma gente severa, sem espaço pra desculpas, perdões.
Descobri em mim uma ala bem egoísta que decretou que a vida dos meus afetos deveria parar e enxergar só o problema que vivo agora.
Os que não estão fazendo isso, estão drasticamente me desacatando a autoridade que lhes era prestada com meu amor e amizade.
Não sei se esse vento ou a feiura que enxergo no meu rosto hoje, mas ando sofrendo com essa desimportância toda.
Não sei se é essa correria de todo dia, a globalização ou a inflação alimentícia, mas ando achando que as pessoas se esqueceram que quando alguém que a gente gosta tá doente, é hora de parar a maratona e as contas e emprestar um pouquinho de ar pro ser frágil e sufocado que sou eu, bem nesse momento.
Agora - já conseguindo teto pra raciocinar, penso que ando exagerando nas cobranças e no odiozinho que senti de alguns desatentos e descuidados que não me prestaram os primeiros-socorros e que no meu coração tuberculoso merecem prisão perpétua pela omissão.
...
Tudo exagero da minha parte, eu sei, e dessa loucura eu já tô curada...tenho certeza.
...mas que foi um absurdo as Olimpíadas de Pequim não serem adiadas. Ah isso foi.
E por falar em primeiros-socorros, a brigada exemplar foi: Dinda Mima, Manu Sollero, Vera Cordeiro, pai, Renata (prima), mãe, Flokinho, Carol (a do meio), João, Thiago, Tia leninha e a escrita.
Necessariamente nessa mesma ordem!
Tenho prestado atenção nos meus defeitos: os velhos e os de agora.
Não sei se são os remédios, essa solidão estranha, o desconforto no pulmão... a verdade é que esse catatau de sensações diferentes que ando inaugurando, fez de mim uma gente severa, sem espaço pra desculpas, perdões.
Descobri em mim uma ala bem egoísta que decretou que a vida dos meus afetos deveria parar e enxergar só o problema que vivo agora.
Os que não estão fazendo isso, estão drasticamente me desacatando a autoridade que lhes era prestada com meu amor e amizade.
Não sei se esse vento ou a feiura que enxergo no meu rosto hoje, mas ando sofrendo com essa desimportância toda.
Não sei se é essa correria de todo dia, a globalização ou a inflação alimentícia, mas ando achando que as pessoas se esqueceram que quando alguém que a gente gosta tá doente, é hora de parar a maratona e as contas e emprestar um pouquinho de ar pro ser frágil e sufocado que sou eu, bem nesse momento.
Agora - já conseguindo teto pra raciocinar, penso que ando exagerando nas cobranças e no odiozinho que senti de alguns desatentos e descuidados que não me prestaram os primeiros-socorros e que no meu coração tuberculoso merecem prisão perpétua pela omissão.
...
Tudo exagero da minha parte, eu sei, e dessa loucura eu já tô curada...tenho certeza.
...mas que foi um absurdo as Olimpíadas de Pequim não serem adiadas. Ah isso foi.
E por falar em primeiros-socorros, a brigada exemplar foi: Dinda Mima, Manu Sollero, Vera Cordeiro, pai, Renata (prima), mãe, Flokinho, Carol (a do meio), João, Thiago, Tia leninha e a escrita.
Necessariamente nessa mesma ordem!
terça-feira, 10 de março de 2009
O tratamento
Nunca vou me esquecer o primeiro dia que entrei no posto de saúde de Campo Grande para me cadastrar no programa de tuberculose.
O nome da doença que era dita como maldita há uns dois seculos, pesava uns quilos enormes e pesados nas minhas costas.
Eu, que como jornalista, sempre estive nos hospitais públicos da rede de saúde pra fazer matérias e acompanhar o drama dos outros, começava a escrever o meu.
Sabe vó, quando você ler essas minhas recordações febris - talvez essa longa estrada de onde eu começava do início agora, já esteja no final e então eu possa te contar que esses seis meses passaram rapidos, que foi moleza e tal, tal, tal...mas para ser bem sincera no começo foi o ó.
Imagina alguma coisa do tipo: seu filho João Neto brigando com metade do corpo de enfermeiras (com todo aquele bom-humor exacerbado de quando é contrariado)...
Imagina eu - que nunca consegui engolir comprimidinhos ( e você fez comigo uma corrente de torcida, na cozinha da sua casa todas as vezes que eu havia tentado aqueles pra dor-de-cabeça, lembra?) tendo agora a "feliz" notícia de que di-a-ri-a-men-te teria que incluir mais uma rotina no meu cotidiano: engolir, e na frente dos enfermeiros, seis comprimidões todo santo dia nos próximos seis meses.
Definitivamente, foi o ó.
É bem verdade que nunca foi tão bom ser cria do seculo XXI. O avanço da medicina e dos tratamentos para minha doença me absolveram, de forma bem classuda, dos ataques que meu pulmão sofreu pelo bacilo de Koch.
É claro que bem nesse momento eu sou eternamente agradecida por usar calça jeans, trabalhar com internet e conhecer os sintomas do aquecimento global. Isso tudo me caracteriza como um ser tecnológico que pode desfrutar das delícias desse milênio. Do contrário, se Deus tivesse seguido meus desejos de ter encarnado na Terra como 'dama antiga', princesa colonial ou camponesa feudal, a tuberculose me deixaria na lona e todos os meus sonhos iriam pro beleleu!
(Benza Deus, o cara sabe mesmo o que faz)
Pois bem. Em janeiro paro o tratamento - ou melhor - finalizo, sem resquísios, e serei uma nova mulher. Você vai ver.
Talvez pela data oportuna, terei que inventar um carnaval "daqueles" para eu e meu pulmão (dessa vez novinhos em folha) pularmos as marchinhas, sambas e axés cheios de gás novo.
Você vai ver. Sairemos eu e ele no bloco "Unidos do Oxigênio", de mãos dadas e embriagados (a versão princesa teria bem mais charme, garanto. Porém bem menos saúde).
Misturando isso tudo com folia, parece até que na "hora tão feliz" (como costumo debochar do momento de tomar o remédio) tudo é molezinha...né não.
Bate um desespero e vontade de vomitar tudinho, mas aguento firme.Engulo o choro, o enjôo e a frescurite aguda e mando aquela drograria toda goela abaixo.
Hoje já é a décima segunda dose e (você ficaria orgulhosa de mim) cada vez mais bato meus próprios recordes. Tenho diminuido meus tempos e quantidade de líquido ingerido. Uma verdadeira superação olímpica (em época de jogos em Pequim).
Qualquer dia te mostro. Você vai ver!
O nome da doença que era dita como maldita há uns dois seculos, pesava uns quilos enormes e pesados nas minhas costas.
Eu, que como jornalista, sempre estive nos hospitais públicos da rede de saúde pra fazer matérias e acompanhar o drama dos outros, começava a escrever o meu.
Sabe vó, quando você ler essas minhas recordações febris - talvez essa longa estrada de onde eu começava do início agora, já esteja no final e então eu possa te contar que esses seis meses passaram rapidos, que foi moleza e tal, tal, tal...mas para ser bem sincera no começo foi o ó.
Imagina alguma coisa do tipo: seu filho João Neto brigando com metade do corpo de enfermeiras (com todo aquele bom-humor exacerbado de quando é contrariado)...
Imagina eu - que nunca consegui engolir comprimidinhos ( e você fez comigo uma corrente de torcida, na cozinha da sua casa todas as vezes que eu havia tentado aqueles pra dor-de-cabeça, lembra?) tendo agora a "feliz" notícia de que di-a-ri-a-men-te teria que incluir mais uma rotina no meu cotidiano: engolir, e na frente dos enfermeiros, seis comprimidões todo santo dia nos próximos seis meses.
Definitivamente, foi o ó.
É bem verdade que nunca foi tão bom ser cria do seculo XXI. O avanço da medicina e dos tratamentos para minha doença me absolveram, de forma bem classuda, dos ataques que meu pulmão sofreu pelo bacilo de Koch.
É claro que bem nesse momento eu sou eternamente agradecida por usar calça jeans, trabalhar com internet e conhecer os sintomas do aquecimento global. Isso tudo me caracteriza como um ser tecnológico que pode desfrutar das delícias desse milênio. Do contrário, se Deus tivesse seguido meus desejos de ter encarnado na Terra como 'dama antiga', princesa colonial ou camponesa feudal, a tuberculose me deixaria na lona e todos os meus sonhos iriam pro beleleu!
(Benza Deus, o cara sabe mesmo o que faz)
Pois bem. Em janeiro paro o tratamento - ou melhor - finalizo, sem resquísios, e serei uma nova mulher. Você vai ver.
Talvez pela data oportuna, terei que inventar um carnaval "daqueles" para eu e meu pulmão (dessa vez novinhos em folha) pularmos as marchinhas, sambas e axés cheios de gás novo.
Você vai ver. Sairemos eu e ele no bloco "Unidos do Oxigênio", de mãos dadas e embriagados (a versão princesa teria bem mais charme, garanto. Porém bem menos saúde).
Misturando isso tudo com folia, parece até que na "hora tão feliz" (como costumo debochar do momento de tomar o remédio) tudo é molezinha...né não.
Bate um desespero e vontade de vomitar tudinho, mas aguento firme.Engulo o choro, o enjôo e a frescurite aguda e mando aquela drograria toda goela abaixo.
Hoje já é a décima segunda dose e (você ficaria orgulhosa de mim) cada vez mais bato meus próprios recordes. Tenho diminuido meus tempos e quantidade de líquido ingerido. Uma verdadeira superação olímpica (em época de jogos em Pequim).
Qualquer dia te mostro. Você vai ver!
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