terça-feira, 10 de março de 2009

O tratamento

Nunca vou me esquecer o primeiro dia que entrei no posto de saúde de Campo Grande para me cadastrar no programa de tuberculose.

O nome da doença que era dita como maldita há uns dois seculos, pesava uns quilos enormes e pesados nas minhas costas.

Eu, que como jornalista, sempre estive nos hospitais públicos da rede de saúde pra fazer matérias e acompanhar o drama dos outros, começava a escrever o meu.

Sabe vó, quando você ler essas minhas recordações febris - talvez essa longa estrada de onde eu começava do início agora, já esteja no final e então eu possa te contar que esses seis meses passaram rapidos, que foi moleza e tal, tal, tal...mas para ser bem sincera no começo foi o ó.

Imagina alguma coisa do tipo: seu filho João Neto brigando com metade do corpo de enfermeiras (com todo aquele bom-humor exacerbado de quando é contrariado)...

Imagina eu - que nunca consegui engolir comprimidinhos ( e você fez comigo uma corrente de torcida, na cozinha da sua casa todas as vezes que eu havia tentado aqueles pra dor-de-cabeça, lembra?) tendo agora a "feliz" notícia de que di-a-ri-a-men-te teria que incluir mais uma rotina no meu cotidiano: engolir, e na frente dos enfermeiros, seis comprimidões todo santo dia nos próximos seis meses.

Definitivamente, foi o ó.

É bem verdade que nunca foi tão bom ser cria do seculo XXI. O avanço da medicina e dos tratamentos para minha doença me absolveram, de forma bem classuda, dos ataques que meu pulmão sofreu pelo bacilo de Koch.

É claro que bem nesse momento eu sou eternamente agradecida por usar calça jeans, trabalhar com internet e conhecer os sintomas do aquecimento global. Isso tudo me caracteriza como um ser tecnológico que pode desfrutar das delícias desse milênio. Do contrário, se Deus tivesse seguido meus desejos de ter encarnado na Terra como 'dama antiga', princesa colonial ou camponesa feudal, a tuberculose me deixaria na lona e todos os meus sonhos iriam pro beleleu!

(Benza Deus, o cara sabe mesmo o que faz)

Pois bem. Em janeiro paro o tratamento - ou melhor - finalizo, sem resquísios, e serei uma nova mulher. Você vai ver.

Talvez pela data oportuna, terei que inventar um carnaval "daqueles" para eu e meu pulmão (dessa vez novinhos em folha) pularmos as marchinhas, sambas e axés cheios de gás novo.

Você vai ver. Sairemos eu e ele no bloco "Unidos do Oxigênio", de mãos dadas e embriagados (a versão princesa teria bem mais charme, garanto. Porém bem menos saúde).

Misturando isso tudo com folia, parece até que na "hora tão feliz" (como costumo debochar do momento de tomar o remédio) tudo é molezinha...né não.

Bate um desespero e vontade de vomitar tudinho, mas aguento firme.Engulo o choro, o enjôo e a frescurite aguda e mando aquela drograria toda goela abaixo.

Hoje já é a décima segunda dose e (você ficaria orgulhosa de mim) cada vez mais bato meus próprios recordes. Tenho diminuido meus tempos e quantidade de líquido ingerido. Uma verdadeira superação olímpica (em época de jogos em Pequim).

Qualquer dia te mostro. Você vai ver!

2 comentários:

Annanda disse...

nossa karla,
Imagino como deve ter sido dificil tudo...
mas esse texto me fez rir...desculpa!desculpa?
Num primeiro momento riso meio que escrachado mesmo...afinal dizem "tudo que é ruim de passar é bom de contar".
Depois um mais leve,talvez seja a tua serenidade e determinação eternizadas nessas palavras que tenham me invadido agora.
espero que a sua vó ao ler as mesmas palavras se sinta invadida também pela tua vitória!
Muito bom a parte da princesa também!rsrs e do "unidos do oxigênio" !hauaha
beijosss!!!

Manu disse...

Didinha vc, tomando esses remédios!! Ufa, passou!
bj,