Pré-tuberculose (ainda sem saber que esse tempo se classificaria na minha vida), eu e Thiela fomos ver de perto a mágica de flutuar na água.
Mar a dentro a gente curtiu nossa amizade sob o sol novo dos sábados amanhecidos na Barra de Guaratiba.
Foi uma descoberta primeiro dela, que fez brilhar a mesma vontade no meu olho.
Surfar foi novidade inédita no meu esteriótipo e foi bom contar e rir orgulhosa da surpresa que isso causava nos ouvintes.
A primeira aula me encheu de poesia, quando cercada de mar o professor me encaixou na espuma da onda forte e brusca que tinha sido antes de tocar em mim.
Em mim ela era veloz, mas soube do meu amadorismo e controlou sua fúria...
A fúria da beleza que é o mar se mexendo sozinho, sem pilha, funcionários especializados, chip ou combustível.
O mar se mexe sozinho com sua disposição particular, sua motivação solitária.
O mar se auto-alimenta, sustenta e não para e talvez seja esse o segredo da sua não-depressão, nem tristeza...
Ele não sossega e por isso segue em paz.
"O mar se mexe sozinho e sem ajuda e é feliz."
Foi nisso que especulei quando na tentativa-estréia de ficar em pé na prancha, o professor anunciou:
-Vai para a primeira onda da sua vidaaaa.
"O mar se mexe sozinho. O mar é pra sempre, não acaba, mas é simples..."
Era uma verdade tão imensa que eu esqueci que a idéia era tentar ficar em pé. Continuei deitada e simples na prancha, observando aquele cinema por si só me carregando pra areia.
Aquela foi A onda da minha vida!
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Onda vai, onda vem, eu toda prosa (e verso também) da delícia de ficar em pé na prancha...
me descobri tuberculosa e ficou entendido porque já não tinha tanto prazer em surfar: com o pulmão bichado, era esforço demais coreografar todo aquele movimento.
Surfar agora vai demorar. Talvez daqui uns anos...
mas isso não dá tristeza e por enquanto nem saudade.
O mar continua lá, se mexendo, se solucionando sozinho.
Isso eu quero também!
É por isso que fico de frente pra ele, pra decorar esse movimento.
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3 comentários:
A gente também tem movimento, mas nem sempre arrebenta no destino certo - a areia. Por isso também preciso dele, para saber onde chegar. Adorei voltar a ler você, Karla.
ahhh amei!!!!
adoro o mar...
quando era criança não tinha medo...parecia peixe...hoje tenho mais cautela, até demais...e fico de longe. Quem sabe um dia pulo de novo, vc fez parecer bonito!
minha parte favorita: "Ele não sossega e por isso segue em paz."
adorei muito!
beijocas com saudades!
Um dia quero ser Karla para ter coragem e ir surfar!
hihihi
"Ele não sossega e por isso segue em paz."
"O mar se mexe sozinho e sem ajuda e é feliz."
Anotei essas duas aqui no caderniho!
bj
bj
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