Pré-tuberculose (ainda sem saber que esse tempo se classificaria na minha vida), eu e Thiela fomos ver de perto a mágica de flutuar na água.
Mar a dentro a gente curtiu nossa amizade sob o sol novo dos sábados amanhecidos na Barra de Guaratiba.
Foi uma descoberta primeiro dela, que fez brilhar a mesma vontade no meu olho.
Surfar foi novidade inédita no meu esteriótipo e foi bom contar e rir orgulhosa da surpresa que isso causava nos ouvintes.
A primeira aula me encheu de poesia, quando cercada de mar o professor me encaixou na espuma da onda forte e brusca que tinha sido antes de tocar em mim.
Em mim ela era veloz, mas soube do meu amadorismo e controlou sua fúria...
A fúria da beleza que é o mar se mexendo sozinho, sem pilha, funcionários especializados, chip ou combustível.
O mar se mexe sozinho com sua disposição particular, sua motivação solitária.
O mar se auto-alimenta, sustenta e não para e talvez seja esse o segredo da sua não-depressão, nem tristeza...
Ele não sossega e por isso segue em paz.
"O mar se mexe sozinho e sem ajuda e é feliz."
Foi nisso que especulei quando na tentativa-estréia de ficar em pé na prancha, o professor anunciou:
-Vai para a primeira onda da sua vidaaaa.
"O mar se mexe sozinho. O mar é pra sempre, não acaba, mas é simples..."
Era uma verdade tão imensa que eu esqueci que a idéia era tentar ficar em pé. Continuei deitada e simples na prancha, observando aquele cinema por si só me carregando pra areia.
Aquela foi A onda da minha vida!
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Onda vai, onda vem, eu toda prosa (e verso também) da delícia de ficar em pé na prancha...
me descobri tuberculosa e ficou entendido porque já não tinha tanto prazer em surfar: com o pulmão bichado, era esforço demais coreografar todo aquele movimento.
Surfar agora vai demorar. Talvez daqui uns anos...
mas isso não dá tristeza e por enquanto nem saudade.
O mar continua lá, se mexendo, se solucionando sozinho.
Isso eu quero também!
É por isso que fico de frente pra ele, pra decorar esse movimento.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Na medida do possível
2009 vai chegar depois de amanhã vó.
A partir daí vai ficar pra trás a exaustão e limites que 2008 me deu.
Eu primeiro pensei que esse foi um ano ruim, surpreendente no pior sentido que a palavra pode ter.
Foi sim pesado e bem triste e ainda é.
Difícil não. Eu diria que não, porque diante de tudo que me tomou, doer foi delicado, cruelmente delicado, mas bonito.
2008 me fez namorada de alguém que eu gosto muito que esteja por perto e levou pra 'longe' outro que já estava aqui quando cheguei e queria que estivesse pra sempre...
Gente que chega, gente que vai e entre uma coisa e outra essa dor no meu pulmão direito.
Cresci umas toneladas esses últimos meses. Saio mais forte pra chegar em Janeiro.
2008 foi um campo bem grande de se atravessar, mas foi possível.
2008 no calendário vai pro lixo. Sua grandeza vai morar em mim.
terça-feira, 14 de julho de 2009
21.11.08
foi o dia que eu soube que nunca mais vou ver novamente o sorriso torto do meu vô.
Também não vou ver seus reclames, elogios e orgulho e lindices e chatices e notícias e histórias e belezas...mas é do sorriso torto que eu vou sentir mais falta.
Esse furacão que me atravessa e o vento trouxe pra perto mais essa tristeza.
"Nunca mais"... é um lugar muito longe e de difícil acesso, por isso pensar nessa distância me cansa tanto.
"Não posso nada contra isso." Esse é também um caminho sem sinalização alguma.
"Eu nunca e eu nada". Eu fico exausta e sem palavras para encarar isso tudo. Silencio.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Procura-se beleza
Recesso de Natal e Reveillon e por isso só volto pro cotidiano trabalhador no próximo dia 5 de janeiro.
Aí já será outro ano, é outro calendário, outros planos. Outro sol.
Me culpo pela falta que me fez o cotidiano desse caderninho alaranjado que eu frequentava sempre antes de dormir enquanto estava de licença-tuberculose.
Foi aqui que pus em obra a estrutura balançante do meu corpo enquanto me curava do pavor de estar tísica.
Era um oxigênio a mais.
Era meu plus.
Esse caderno era o salão de beleza do momento estranho e descabelado que vivia.
Eu entrava nele vendo mil defeitos no meu estar e saía daqui bem mais bonita. Depois dele eu era barba, cabelo e bigode bem aparados e auto-estima em dia. Olhando doce e comédia pro drama de terror que me acompanhava.
Era uma dose de caderno e eu charmosa de novo encarando fresca o espelho.
O caderno sumiu da minha vista e olhar esses dois meses de trabalho...
é que muita coisa aconteceu que nem caderno dava conta dos novos desesperos: colocar a vida em ordem no trabalho, limpar a caixa de emails (milhares) rever amigos, confusas propostas de emprego, nova turma na pós-graduação, chorar o coma do meu vô, chorar a perda do meu vô. Entender essa nova e esquisita verdade...
Pra isso eu ainda não estava pronta e ainda não tive tempo, nem saúde pra entender.
Vó, estou de volta pro seu caderno, é com ele que converso pra entender essa zona.
sexta-feira, 3 de julho de 2009
"Pro dia nascer feliz!"
Já é madrugada de novo, Flokinho dorme no meu colo.
Na escrivaninha a roupa separada e a mochila pronta me esperam.
Amanhã volto a trabalhar, depois de três meses em casa de licença-tuberculose.
Tento dormir cedo pra estar descansada pro evento, mas é impossível. O corpo deitado na cama é de criança inquieta e ansiosa como em noite pré-excursão escolar.
Até a merenda eu preparei. Voltarei cheia de novidades!
Na escrivaninha a roupa separada e a mochila pronta me esperam.
Amanhã volto a trabalhar, depois de três meses em casa de licença-tuberculose.
Tento dormir cedo pra estar descansada pro evento, mas é impossível. O corpo deitado na cama é de criança inquieta e ansiosa como em noite pré-excursão escolar.
Até a merenda eu preparei. Voltarei cheia de novidades!
segunda-feira, 29 de junho de 2009
"Tem certas coisas que eu não sei dizer..."
Depois de um longo e tenebroso inverno, o sol raiou.
Desci pra me expor a ele, cozinhar em banho-maria (orientação médica, que eu cumpro felizinha da Silva e sempre com um livrinho pendurado entre mãos).
Exercício gostoso que me levou a alguns cantos da infância vivida no grande condomínio Bella Torre (que continua imenso, mesmo agora que o olho com retina adulta).
Foi bom crescer aqui.
Assim como foi bom brincar, beijar o primeiro beijo, frequentar vizinhos, fazer festa, trabalho de grupo, andar de bicicleta com rodinha, andar de bicicleta sem rodinha, pique-pega, pique-esconde, pique-cola, ping-pong humano," descer pra conversar"...
O Bella Torre é chão e foi muro pra muita coisa que ainda mora em mim.
CENA PRODUZIDA NO MEU BANHO DE SOL:
O menininho do 6° andar do bloco 3 vinha caminhando com a mãe. Conversava, e de longe eu vi que ele encarou a mureta que divide o pátio do estacionamento, com uma coragem nova e viva demais para um homenzinho de 5 anos.
Deu vontade de pular e assim ele o fez. Largou do braço da mãe e num esforço comovente lutou contra o concreto que devia bater mais ou menos em seu ombro.
Ele deu impulso.
Ele pulou a plenos pulmões.
Ele caiu e levantou de novo.
Ele tentou outra vez.
Ele ajudou com os pés, como se afogasse.
Ele fez força com o braços, como se voasse...e arrastou o rosto, se arranhou, continuou puxando a barreira pra si.
Eu tive vontade de dar uma força, um pezinho, mas fiquei de longe torcendo para ele não desistir. Do êxito dele dependia a alegria do meu dia.
Se ele vencesse, bem na minha frente, com tanta dignidade - seria ele o herói, o super-homem que salvaria toda humanidade daquele dia.
O garotinho do outro lado do muro e Deus perdoaria toda face da Terra.
Para torcer pelo feito, meu corpo todo funcionava em sua direção. preso no que seria meu pequeno grande milagre.
Do lado dele, a mãe que não parava de olhar o relógio e fazia cara de "não tenho tempo para suas criancices" perdia a grandeza do momento e a lindice que era aquele rosto espremido de tanto fazer força.
Já quase sem força, ele olhou pra mim, como se desculpasse pela decepção e eu olhei pra ela com cara de " faça alguma coisa".
Ela entendeu, porque é mãe e recuperou o espetáculo perdido soltando a bolsa da mão e empurrando a bundinha do filho com uma ternura forte - dois adjetivos que naquele momento combinaram como nunca antes.
Ele foi.
Ele foi para o outro lado respirando cansado e vencedor.
Eu suspirei de emoção.
Ele transpirou, prosa de si.
Ela bufou, mas orgulhosa.
(como você pode ver, existem muitas maneiras de utilizar o ar que entra e circula pelo pulmões. - eu escolhi respirar pelos olhos. É bem mais bonito.
Há também muitas maneiras de ultrapassar muretas. Com empurroezinhos afetuosos é sempre a melhor delas.)
CONTINUANDO...
Meu Messias entrou então no carro com sua Maria e foi embora portão a fora.
Foi aí que me lembrei do meu super-homem parente: Guigui.
Se fosse ele o protagonista da cena que eu tinha acabado de co-dirigir - meu macaquinho de estimação teria deixado a mureta pra trás com o "pé nas costas" e finalizaria o golpe com aquela sua gargalhada bem safada.
Suspirei de novo e senti um amor imenso por ele, aquela vontade de abraçar que dá quando alguma coisa no dia, nos remete a alguém que a gente gosta bastante.
Abençoei o Guigui em pensamento e pedi a Deus para ser amada nesse mesmo formato durante o dia de algumas pessoas também. Será?
sexta-feira, 26 de junho de 2009
"Há um vilarejo ali..."
Estou a pouco de voltar para um lugar chamado rotina.
Voltarei mais leve e mesmo assim carregada de itens recém-incorporados a minha lista de sobrevivência diária.
Colocar essa teoria toda de forma prática...aí é que tá e essa vai ser a prova dos nove.
Volto com alegria e uma só dor no peito: deixar minha mãe sozinha nesse nosso lar imenso e vazio de nós, durante as semanas.
Tô pensando em morar mais aqui quando eu voltar pra aí, vó.
Quero minha mãe por perto: chega de saudade...
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